Toda religião geralmente começa com uma REVELAÇÃO ou com uma figura real ou mítica que passou essa revelação.No caso do druidismo essas origens se perderam no tempo. É também um assunto muito controverso, do ponto de vista histórico, a origem dos druidas. A palavra "druida" origina-se provavelmente do proto-indo europeu "dru-id" que significa "Homem sábio". Para outros havia uma palavra mais abrangente que nos dá uma idéia da função dos druidas: seria dru=forte, uid=ver; idein= saber e ver, ou seja, eram os homens que percebiam além da realidade terrena, uniam a natureza ao sagrado.
Outros dizem significar Homens do carvalho, pois os druidas veneravam esta árvore e dela extraíam o visco, importante para cura de doenças, rituais, etc. Acredita-se que, quando os celtas se organizaram e se desenvolveram, encontraram sábios de uma religião dos primitivos povos daquela região e os incorporaram à sua cultura. Fica, porém, a pergunta: que povo foi esse? Se analisarmos as lendas e mitos celtas elas nos dizem que esses sábios vieram das ilhas do norte do mundo, trazidos pelo povo da deusa Dana, o povo divino, envolto por brumas de origem mágica. Segundo a tradição esotérica, os druidas vieram da região Hiperbória, localizada no Círculo Ártico que fazia parte da Atlântida. Com as diversas eras glaciais esse povo migrou para o sul abrangendo toda a região das Gálias (França, Bélgica, Espanha, Portugal e posteriormente as Ilhas Britânicas e Irlanda. Os povos que lá viviam os respeitaram, chamando-os de Semnothées ou adoradores do DEUS Único. O druidismo chega então ao seu auge quando a civilização celta beneficiada e encantada com o valor dos druidas, adotou-os como seus mestres e orientadores.
Os druidas e druidesas formavam a classe mais importante na sociedade celta, pois esta era uma sociedade onde tudo se articulava em volta do sagrado. Os druidas estudavam muitos anos (cerca de 20 anos) e as crianças já eram, desde cedo, entregues à suas escolas onde passavam por um aprendizado difícil e rígido. Na realidade havia especializações entre os druidas de acordo com a sua vocação.Basicamente temos três tipos: os druidas ou druidesas que formavam a classe profissional: eram os professores, matemáticos, astrônomos, filósofos, cientistas, juristas e os médicos que eram encarregados não só da cura das doenças como da preservação do bem estar físico e psíquico do povo. Além disso, também assumiam funções que hoje em dia chamaríamos de sacerdotes encarregados de realizar os ritos, as festas, a sagração do rei, etc. Os druidas - vates eram especializados nas advinhações, conversas com os ancestrais e profecias do futuro e os Bardos - "os guardiões das Tradições", das artes, da memória das tribos... enfim, eram encarregados de preservar toda a sabedoria sagrada do mundo. Como vimos não podemos chamar os druidas de sacerdotes no sentido comum tão múltiplas eram suas funções embora uma coisa seja certa: nenhuma dessas funções era desligada do conceito do sagrado.
Crenças dos Druidas
O druidismo era monoteísta ao contrário do que sempre se ensinou. Era o DIS-PATER (o deus dos céus), o grande deus que deu origem ao mundo.Havia, entretanto, cerca de 300 divindades locais que na maioria dos casos era a mesma divindade com vários nomes dependendo da região; eram os responsáveis pela colheita, o lar, etc. A magia entre os celtas era uma prática fundamental e importante. Não tomemos magia no sentido pejorativo que se deu posteriormente. No druidismo ela tem um sentido de uma arte ou ciência oculta que, através de ritos executados por pessoas de conhecimento, traziam benefícios ao Homem. Este, aliás, é o real sentido da magia que reside em, nada mais nada menos, na compreensão e entendimento das forças da natureza usadas em benefício do homem É uma ligação entre o visível e o invisível, a ciência e a arte parte de uma sabedoria antiga e mantida através dos iniciados.A magia que nos chegou dos celtas foi pouca, entretanto, e ficou restrita a alguns guardiões da Tradição. A mais conhecida delas é a alquimia vegetal. Das plantas os druidas preparavam elixires, chás, misturas que conferiam principalmente saúde ou os preparavam para estados de transe que permitiam aumentar o nível de consciência. Das árvores eles também aumentavam a força e o vigor, abraçando-as. Sem dúvida o visco, extraído do carvalho, como já nos referimos, é o mais importante, pois curava a infertilidade dos animais e era um antídoto contra todos os venenos. Para recolher o visco havia um grande cerimonial druídico sempre seguindo as influências lunares. A lua foi reverenciada, simbolizando a Grande Deusa. Os celtas acreditavam na continuação da vida após a morte onde poderiam habitar as ilhas longínquas, envoltas em bruma, um verdadeiro paraíso. Também podiam voltar e encarnar em outro corpo. Reverenciavam do corpo humano, a cabeça, guardando o crânio dos mortos, pois acreditavam que nesta residia à alma imortal. Este fato gerou uma série de concepções erradas, pois, em túmulos e monumentos, foram encontrados crânios humanos que foram associados a sacrifícios humanos. Os celtas não construíram certos monumentos como Stonehenge, por exemplo. Pesquisas modernas provam que estas construções existiam muito antes dos celtas embora eles os usassem para rituais e observatórios astronômicos. A história ignora quem possa ter construído tais monumentos, mas os Iniciados afirmam que foram os druidas antes da chegada da civilização celta e que transportaram as pedras com a força mental. Dada à sua grande ligação com a natureza, os celtas cultuavam os elementais e tinham grande crença no mundo das fadas.
Rituais
Os rituais celtas eram realizados ao ar livre, em locais sagrados, sempre seguindo a roda do ano celta, pois seguiam os eventos naturais do ano. O calendário era lunar e associado aos eventos normais da natureza como os solstícios, equinócios e estações do ano. O início do dia era contado a partir do por do sol. Eram oito os principais rituais dos quais citaremos os quatro mais importantes:
SAMHAIM (atual HALLOWEEN) - a festa do ano novo, começando ao por do sol de 31 de outubro (outono no hemisfério norte). Era dedicada aos ancestrais e simbolizava a afirmação da vida. Era a noite da aproximação entre este mundo e o outro.
IMBOLC - celebrado a 1° de fevereiro; era a celebração da primavera e do início do plantio.
BELTANE - 1°de maio, o dia da vida e da escolha dos casamentos.
LUGHNASSADH - 1°de agosto, era o tempo das colheitas.
Os demais correspondiam ao solstício do inverno (YULE), equinócio da primavera, solstício do verão (período de grande contato com as fadas e os elfos) e o equinócio de outono.
Lendas e Mitos
Há uma enorme variedade de lendas e mitos celtas, pois foi através dessas lendas que nos chegou um maior conhecimento da filosofia celta. Seria impossível descrever todas essas lendas neste texto, pois daria um enorme livro.Só vou salientar algumas:
Os celtas diziam ter-se originado da deusa DANA que gerou a raça dos Thuata Dé Dánann, um povo que veio das brumas que envolviam as colinas distantes e para lá retornou após derrotar os gigantes que habitavam a região, os Fomoire. Daí desenvolveu-se a civilização celta. Os bardos ensinavam TRÊS grandes verdades: Deus, a verdade e o círculo de Gwynvyd. Para se atingir esse círculo, deve-se ter previamente experimentado todas as coisas e derrubado todas as limitações que prendem à vida física. Devemos reter o conhecimento das experiências anteriores, mas estas experiências, essas lembranças vêm à tona sem a carga de emoções, portanto sem dor ou sofrimento. É sempre assim a filosofia celta, aberta e alegre. Em quase todas as lendas o elemento de transformação está no símbolo do caldeirão.
Ele é o elemento de transformação seja espiritual seja física e pode conceder abundância, declínio, sabedoria, conhecimento e inspiração. Na lenda Ceridwenn, ela faz uma poção mágica para seu filho que deveria obter a sabedoria ao ingerir a poção. É Gyon, entretanto quem a toma, acidentalmente. Ceridwenn se enfurece e sai em sua perseguição. Por fim consegue engolí-lo sob a forma de grão que, fecundado, dá origem a Taliesin, o grande bardo. Ao bardo Taliesin atribuem-se um grande número de baladas e histórias. Uma delas conta que vários aventureiros desceram ao reino de ANNWN que é o submundo gaulês, a morada dos mortos. Esses aventureiros pretendiam se apossar do caldeirão de Pwyll (o grande senhor de Annwn). Este senhor mora no castelo dos quatro cantos. Simbolicamente os quatro cantos representam os quatro elementos da criação existindo em harmonia estável. Só os fortes se aproximavam pois os fracos podiam morrer. O caldeirão foi achado no centro de um quarto quadrado onde havia uma espiral (a espiral é o símbolo da morte e do renascimento). Esse caldeirão, provavelmente, é à base do Santo Graal, ou seja, o símbolo da iluminação e transformação espiritual. Existem ainda as conhecidas lendas do rei Artur e do mago Merlin que já vão surgir nos romances de cavalaria da Idade Média. Seria de todo impossível resumi-las em um único texto embora haja extensa literatura para os interessados em conhecê-las.
O Novo Druidismo
Após a invasão romana e a chegada do cristianismo, os druidas foram persuadidos a se converter ao cristianismo. Aqueles que se recusavam eram submetidos a intensas perseguições, torturas e mortes. Esses antigos druidas refugiaram-se nos mosteiros cristãos, particularmente na Irlanda, tornaram-se monges copistas e é graças a eles que o conhecimento secreto dos druidas foi mantido pois esses monges escreveram as suas tradições sob a forma de lendas e mitos que foram terminadas apenas no século XI. Por outro lado, é também graças a esses antigos druidas que mantivemos toda a cultura greco-romana intacta enquanto o resto da Europa se mantinha na escuridão da ignorância. Assim, oficialmente como monges, os druidas praticavam seus rituais e transmitiam seus ensinamentos ocultos oralmente e em segredo para que não caíssem em mãos erradas. Por outro lado, o druidismo oficial foi praticamente extinto em toda a Europa embora aparentemente tenha se conservado, em grande segredo, na maior parte das Ilhas Britânicas. Há também evidências de que o druidismo bem como outras religiões ditas pagãs sobreviveram em áreas isoladas da Estônia, Latvia e Lituânia até o nosso século. O conhecimento druídico ficou oculto na Arquitetura. Podemos ver vários símbolos druídicos nas grandes catedrais góticas européias. Dos mosteiros, a tradição druídica foi mantida pelos templários e, posteriormente pela franco-maçonaria. Após um longo período na obscuridade, o druidismo começa a sobreviver novamente quando, em 1717, o irlandês John Toland cria a "Druid order" e, pouco depois, em 1781, Henry Hurley, na Inglaterra, funda outra corrente a "Ancient Order of Druids" que posteriormente se subdividiu em diversas correntes, mas sempre sob a forma de seitas esotéricas que permaneciam em segredo. Finalmente, a partir principalmente da segunda década do século passado, o druidismo é amplamente praticado havendo várias ordens e grupos que ensinam e praticam os ideais druídicos em várias partes do mundo inclusive no Brasil, onde existe o Colégio Druídico do Brasil, em Niterói, estado do Rio de janeiro.
Considerações Finais
É preciso salientar que, apesar da grande importância que o druidismo vem tomando, poucos são os que sabem avaliar a profundidade desta filosofia. A compreensão do druidismo exige um desenvolvimento interior para que possamos entender toda a profundidade de sua mensagem. A formação de um druida é, e sempre foi, longa e árdua, exigindo grande dedicação. Se o discípulo está pronto, porém, valem todos os esforços, pois o druidismo é bem mais que uma religião ou uma filosofia - é um modo de viver.
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